sexta-feira, 30 de novembro de 2012

A negritude e a Cozinha

          O culto ao corpo é tão velho como o mundo, parte de todas as civilizações, que lhes deram destaque e apreciação considerável, sendo mesmo, acredito eu, o fundamento conceitual do viver humano. E a saúde é o que colore, constrói as sensações e a percepção delas e do infinito que habita em nós. Bem, e a cozinha, onde entra? Entra na história, é o cerne do existir, lugar sagrado da humanidade, onde ela atinge o requinte do prazer e da criatividade, parte dos segredos que se perderam nos tempos, mas atestam, com brilho, o grau da evolução dos seres.
          Mas, este templo das maravilhas já foi canto de muito sofrimento, verdadeiro antro de trabalhos exaustivos e pouco considerados: fundo onde habitavam mulheres e escravas(os), base de origem e sustentação da raça humana. Um artigo muitíssimo interessante, chamou minha atenção um dia desses. O cronista, da ala dos consultores gastronomicos, falava da ausencia de chefs negros no mercado da alta cuisine,onde abundam homens brancos de classe média, muitos cultos ou executivos que se bandearam para o outro lado do balcão, realizando velhos sonhos proibidos, que explodiram nessa era das liberdades assumidas, mas com o sêlo do gênero e da classe social, algo como validar para existir com o alto padrão que se exige nessa sociedade com conceitos muito bem estabelecidos.
          E o negro?  Esse percorre o mundo tentando preencher o vácuo de suas almas atormentadas pelo vazio de identidade escorrida de suas vidas, pingo por pingo, seculos sequidos. Agora querem exibir outra face, a construída na vida escorraçada, na sombra de olhares cheios de desprezo ou comiseração, dos valões sem eira nem beira, e das oportunidadestruncadas. Contruiu um orgulho dos escombros de sua cultura ancestral, arrancada e já esquecida, mas retomada e modificada pelos tempos novos e influências múltiplas. Mas os novos nichos ainda não lhe pertencem e da cozinha ele quer distância, o simbolo mais representativo de sua humilhação. Para ele, a ascensão social pertence a outras esferas, bem longe do quarto de empregada.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A cozinha e o mercado financeiro

          Enquanto a cozinha era povoada por mulheres, o glamour passava longe. Mas, que coisa, quando os ladrilhos, os azulejos, panelas e fogões caíram no poço dos valôres filosóficos-financeiros, verdadeiros pilares de sustentação do projeto patriarcal, os suspiros femininos se perdem nas brumas de acintosa indiferença e os cantos emergem dos fundos, ganhando visibilidade, status e uma nova ocupação: a de chefs (sem o e fica mais chique) de cozinha. A que devemos tamanha transformação? Vejamos: No campo das idéias, as mudanças tinham que ser propiciatórias aos valôres masculinos. Se aprovada, dentro dos critérios estabelecidos, ganhava respeito e categoria. Até nas bolsas de valôres. O olhar do mercado lhe deu brilho e rentabilidade.
          E as mulheres, no turbilhão dos valôres temporais, avançam  com passos menos apressados, mais cautelosos. Afinal, os conceitos que os elevaram precisam absorve-las na medida exata do talento que se desenvolveu no tempo. Mas como a roda dos acontecimentos giram sem parar, elas observam e continuam a emprestar o caderno de receitas e a corrigir a lição de casa.